Olá!
O livro Christiane F. foi um dos sorteados no grupo de leitura e discussão
de livros que eu faço parte – o Café com
Letras. Na verdade o livro que eu deveria estar lendo agora é Cem anos de
solidão (do Gabriel Garcia Marquez) mas tive um lapso de memória e acabei
começando a ler esse e aí baguncei tudo.
Quando acontecer o café com letras eu trago as
discussões que travamos no nosso encontro pois nesse post a ideia é falar sobre
as minhas impressões do livro.
Para começar, consiste em um relato real e eu já sabia a história do livro antes
de ler ele porque vi o filme (que foi feito baseado no livro) quando eu tinha
uns 10 anos. O filme me chocou muito e acho que até e até eu ler o livro,
achava que era nova demais para ter visto aquele filme mas a minha opinião
mudou.
A história resumida esta no subtítulo do livro: 13
anos, drogada e prostituída. Tá que o titulo e subtítulo são invenções
brasileiras (na obra original o nome era completamente diferente - Wir Kinder vom Bahnhof Zoo, que significa "Nós, os filhos de Bahnhof Zoo, estação de trem) mas acho que
a forma brasileira utilizada foi boa porque já fala para o leitor o que
esperar.
O engraçado é que o filme me chocou muito (e as
lembranças do filme me chocavam) até eu ler o relato da Christiane. Os
detalhes. A junção das declarações da mãe da Christiane e de outros
profissionais que de alguma forma se relacionaram com o caso dela ou com a
situação crítica que se passava na Alemanha no fim da década de 70. Isso sim é
que choca porque o filme não tem a percepção, o desespero e diversos detalhes
que o relato dela apresenta.
Acho que o que mais me impressionou era a minha
reação constante a coisas que a Cristiane falava sobre o que motivou ela a
iniciar o uso de drogas e a passar para uso de substancias mais pesadas. Ela
repetiu várias vezes que era para se sentir “incluída” e no início eu ficava:
que criancice, que idiotice, que imaturo.
Aí, teve um momento que o número 12 saltou da página
e gravou na minha mente e eu realizei: LÓGICO que é infantil e besta esse tipo
de pensamento! Christiane tinha 12 anos quando fumou maconha pela primeira vez
em uma sociedade sem internet (para mim isso muda muita coisa!)
E o que me dá raiva (de mim) é que a minha reação
parece semelhante com a reação do bom povo alemão da época que ignorava que a “drogada”
na estação era uma criança! Que a menina com icterícia passando mal porque
provavelmente usou uma agulha infectada É UMA CRIANÇA, mas que por ser drogada,
teve atendimento negado no hospital.
E essa criança, quando conseguiu sair da merda e se
desintoxicar continuou sendo desestimulada e convencida de que nunca poderia
vencer na vida – pois tinha sempre o histórico de ter sido drogada no lombo.
Bom, indignações a parte e mesmo com toda a crítica
ao sistema alemão na forma de lidar com o problema das drogas com crianças e
adolescentes, eu realmente não tenho como não botar uma grande carga de tudo o
que aconteceu nas costas dos pais da Christiane.
Sério, onde já se viu uma pessoa de 12 anos poder
sair de casa todos os dias da semana? E não tinha tarefas, e tinha uma mesada “de
graça” (independente de qualquer rendimento escolar). Por vezes dá impressão de
que os pais não fazem ideia do que se passa com a vida acadêmica da menina!!
O mais bizarro – mesmo compreendendo as limitações
tecnológicas da década de 70 – é que a mãe permitisse que uma menina tão nova
simplesmente sumisse finais de semana inteiro e NUNCA fosse conferir com a mãe
da suposta amiguinha se ela estava realmente lá.
Tá. Se não bastasse todaaaa a negligencia familiar
pré e início do consumo de drogas, a reação da mãe quando descobriu que a filha
esta injetando fucking HEROÍNA foi ... cara, só pode ser ignorância ou pura
apatia porque parecia que ela não fazia nada. Somando as declarações da mãe com
as da Christiane, me pareceu que a mãe deixou ela ainda mais solta e abandonada
depois que descobriu o vício da filha.
Ta. Ta. A vida com internet é diferente. Mas
realmente tenho a impressão que as coisas podiam ter sido muito diferentes se a
Christiane tivesse tido uma presença familiar de verdade – não aquele “como eu
não vi? Como eu não imaginei?” que a mãe dela fica soltando.
Tanto é verdade que a Kessy – amiga da Christiane cuja
mãe encheu de porrada e proibiu de sair a noite nessa época – rapidamente se recuperou,
voltou a frequentar normalmente o colégio e, segundo a própria Christiane,
continuou tendo uma vida normal.
( Nesse momento vem todos os críticos de violência doméstica
e bla bla bla. Não estou defendendo que você encha seu filho de porrada para
ele “aprender”. Somente estou dizendo que entre ficar apático e tentar “bater
no seu filho antes que alguém da rua bata” é menos traumático na vida do que se
tornar viciado em heroína PONTO.)
Poster do filme. |
Concluindo a análise: excelente livro – não que a
leitura seja agradável, porque eu me sentia emocionalmente abalada diversas
vezes – mas EXTREMAMENTE recomendável para formação individual, social e
familiar das pessoas.
O vício em drogas realmente inicia cedo, eu vi isso
na minha adolescência, e é uma tendência de adolescente tentar se enturmar sem
medir as consequências desse tipo de escolha. Eu agradeço a Deus porque os
amigos que eu resolvi me enturmar apenas curtiam rock e jogavam RPG xD
Logo: RECOMENDO essa leitura para TODAS as idades –
é pesado mas antes cedo a leitura que fica como alerta para crianças e jovens
do que o reflexo depois.
#Recomendo também o filme, que é de 1981 e tem o mesmo título.
Até!
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